Exposição destaca visões enraizadas do papel da mulher na sociedade
- Notícias de Dourados

- 24 de set.
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O objetivo é refletir sobre a história da educação das mulheres no século XX

No VII Congresso de Educação da Grande Dourados, realizado entre os dias 8 e 11 de setembro na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), uma das atividades em destaque foi a exposição “Mulheres e educação: seus papéis em papel”, organizada pela professora Kênia Hilda Moreira e orientandas. O trabalho teve como foco o século XX, especialmente a partir das escritas da jornalista e locutora Helena Sangirardi, com suas colunas “Lar, Doce Lar” e “Da Mulher para a Mulher” na famosa revista O Cruzeiro.

Kênia, que também coordenou o congresso, explica que a exposição dialoga diretamente com o tema do evento: Educação para o bem-viver: repensando práxis ambientais, psicológicas e sociais. “Essa exposição tem financiamento do CNPq e faz parte de um projeto de pesquisa. O objetivo é refletir sobre a história da educação das mulheres no século XX e como jornais, revistas e a imprensa em geral impuseram modelos de comportamento feminino, determinando como as mulheres deveriam se portar”.
Segundo o Monitor da Violência Contra a Mulher até o dia 10 de setembro de 2025, Mato Grosso do Sul registrou 27 casos de feminicídio. Para a professora, o que foi passado como prescrição de comportamento no século anterior nos impressos e na imprensa agora ganham novas facetas. “Os impressos e a imprensa que educavam as mulheres, agora retratam as denúncias de violência contra a mulher e o feminicídio. Então, o tema nos atingiu não só pelas fontes históricas, mas por questões da atualidade”.

A bolsista de apoio técnico da pesquisa, Lucrécia Prieto detalha que a exposição traz uma narrativa sobre como a mulher deveria se comportar antes e depois do casamento. “Criamos a Mulher Vestida de Papel, confeccionada inteiramente com jornal, cola quente e fita, representando esse corpo feminino em processo de construção até ser levado ao altar. Também temos o totem, que chamamos de silhueta, onde expomos alguns textos de Helena. Do outro lado, mostramos como a mulher aparece na imprensa do século XXI, com relatos de feminicídios, histórias apagadas, sonhos interrompidos. A ideia é revelar o óbvio, mas que ainda segue invisibilizado”.
Apesar da distância histórica, Lucrécia reforça que muitos discursos ainda reverberam. “Quando saímos às ruas, ocupamos espaços públicos ou usamos determinadas roupas, sentimos que continuamos sendo objetificadas - tanto mulheres cis quanto trans, cada uma em seu recorte social. O peso da rejeição simplesmente por sermos mulheres é real”.

A doutoranda Cinthya Larrea, contou sobre as leituras bibliográficas prévias, feitas pelo grupo, e explicou sobre uma peça da exposição. “Confeccionamos um vestido branco com véu. Na borda do véu, transcrevemos frases da revista sobre a virgindade e os conselhos dados às jovens solteiras. Na época, a virgindade era vista como um tesouro, ligado à honra da família, e deveria ser guardada até o casamento. A mulher era orientada a manter-se pura, sem sequer pensar em relações sexuais, que só deveriam existir para a reprodução, nunca para o prazer”.
Já na lateral do véu, uma faixa apresentava frases voltadas às mulheres casadas. “Helena prescrevia que a esposa ideal deveria cuidar da casa, dos filhos e evitar aborrecer o marido. O papel feminino estava diretamente ligado ao lar e à manutenção da harmonia familiar”, complementa Cinthya.

A mestranda da Faculdade de Educação, Aline Silva, participou da montagem da cozinha, espaço que dialoga com a educação feminina no século XX, e que ainda ecoa no XXI. “Esse vínculo entre a mulher, a casa e as funções domésticas está muito enraizado em nossa sociedade. Entre as décadas de 1940 e 1960, ser uma boa mãe, filha e esposa eram prescrições constantes em revistas e livros destinados ao público feminino. E ainda hoje vemos isso se repetir em falas familiares: 'já casou?', 'quando vai ter filhos?', 'já está na idade'”.
Para Aline, a idealização da “mulher perfeita” apenas se transformou, mas não desapareceu. “Nas redes sociais, esse discurso continua forte. A mulher ainda é culpabilizada quando o casamento não vai bem: se o marido trai, ela deve relevar por causa dos filhos, ou considerar que precisa se cuidar mais para continuar atraente. As redes reforçam esses papéis, seja com influenciadoras mostrando rotinas fitness ou com a volta da imagem da mulher camponesa - mas agora, sob a ideia de que seria uma escolha dela”.
Por: Elisa Lorini - DRT 2228/MS








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