“É uma luta e tanto que a gente tem aqui, o lugar não é adequado, mas não é o dinheiro que faz a gente melhor e sim as nossas atitudes”, Maria Paraguaia
Determinação, cuidado, carinho e amor foram os propulsores para a douradense Maria Lurdes Silva, popularmente conhecida como ‘Paraguaia’, ajudar crianças no bairro Santa Felicidade, em Dourados, a estudar. O projeto que inicialmente se chamava ‘Escola do Bairro’, atualmente atende mais de 130 crianças gratuitamente. “Começamos com uma lona no chão, todas as crianças sentadas, cada uma com um livro de historinha, saímos da lona e fomos para os tijolos, depois recebemos alguns bancos e neste ano conseguimos as carteiras”, diz Maria.
Paraguaia é uma das primeiras moradoras do bairro Santa Felicidade e desde 2013 busca ajudar a comunidade. Ela é viúva, sua renda vem da atuação como cabeleireira, cozinheira, costureira e precisou se dedicar exclusivamente aos cuidados com os filhos, um menino de 8 anos e uma jovem de 20 anos, ambos possuem diagnóstico de TEA - Transtorno do Espectro Autista, e na tentativa de ajudar o filho nas atividades escolares e no desenvolvimento da socialização, ela começou a ensiná-lo no terreno de casa e foi convidando algumas crianças a participar.
“É um bairro muito carente, com diversos problemas. Agora, depois de muitos anos que teremos água encanada e luz. Outra situação, são que os pais de algumas crianças são alcoólicos ou usuários de drogas, é um abandono muito grande. As crianças precisam de carinho e de atenção. Ao mesmo tempo, existem pais que trabalham muito e quase não tem tempo para os filhos, que vão crescendo, muitos ficam revoltados e os pais não entendem, pensam ‘trabalhei tanto para agora eles agirem assim’, mas se esquecem da importância do carinho e de ouvir”, alerta a moradora do bairro Santa Felicidade.
O PROJETO
Durante a pandemia, Maria Paraguaia recebeu um professor universitário que estava ensinando as pessoas do bairro a fazer alguns produtos e pediu ajuda para desenvolver atividades adaptadas para o filho. Com a ajuda do professor, outros também se voluntariaram para ajudar as crianças da comunidade. “Vamos fazer a escolinha de reforço, quem encara comigo? A porta está aberta, sendo professor ou não, o importante é ajudar”, foi a fala de Maria em 2021.
AOS SÁBADOS
Esse pequeno gesto, foi ganhando outras dimensões e o que era apenas seu filho, se tornou quatro grupos em um terreno sem sala de aula, para ajudar crianças de 4 a 17 anos. As atividades são realizadas todo sábado a partir das 13 horas, uma turma na varanda, outras duas turmas no quintal e última na entrada da casa, embaixo de um pé de manga. “Duas turmas ficam no quintal, eu coloco três camadas de tela, daquelas usadas em horta, para proteger as crianças do sol. Para atender todas as crianças nós temos somente um banheiro, e recentemente começamos a construir outro dois banheiros”, fala preocupada.
VOLUNTÁRIOS
Atualmente são oito professores voluntários que atuam em escolas estaduais, municipais e nas universidades e quatro auxiliares, essas pessoas revezam os sábados, para auxiliar crianças dos bairros Santa Felicidade, Estrela Verá, Jockei Clube, São Braz, Santa Fé, Parque das Nações I e II, Jardim Márcia, entre outros, que vão até o local. “É uma luta e tanto que a gente tem aqui, o lugar não é adequado, mas não é o dinheiro que faz a gente melhor e sim as nossas atitudes”, esclarece.
UMA REFEIÇÃO
Em entrevista exclusiva ao Jornal Notícias de Dourados, no dia 19 de novembro, a fundadora do projeto, relata que pela extensão dos atendimentos nesses bairros, o projeto recebe crianças imigrantes, além de outras que possuem diagnóstico de TDAH, TOD e TEA. Entre as atividades de reforço, eles também oferecem um lanche, pois muitas crianças farão apenas aquela refeição no dia. “Aqui é um lugar para você procurar a curiosidade do aluno, para ele se interessar pela leitura, matemática ou o que ele está precisando de ajuda. A curiosidade é que faz crescer na vida”, reforça.
SONHO
O grande impacto deste projeto, sem recursos financeiros, levou a Paraguaia a fundar no dia 6 de julho deste ano, a ‘Associação para o reforço escolar Maria Paraguaia’, que recebeu este nome a pedido dos pais. E os desafios da associação sem fins lucrativos, agora são ainda maiores, pois necessitam edificar salas de aula e concluir a obra do banheiro, que com grande dificuldade, está em andamento. “Eu sonho em poder fazer uma área e depois dividir em duas salas, para ficar melhor para as crianças, também desejo atender aos domingos”, finaliza.
COMO AJUDAR
Segundo Maria, com a alta demanda de procura local, 2025 já está com lista de espera e a expectativa é poder atender 150 crianças, mas para que isto aconteça, ela precisará da ajuda de todos. Você pode conhecer as atividades que acontecem na casa de Maria Paraguaia, na Rua Alice Licht Martins, 3250 ou pelo WhatsApp (67) 99844-9489. As doações podem ser de alimentos, cadernos e outros materiais escolares, jogos, livros e brinquedos.
Por: Elisa Lorini DRT/MS 228
Fotos: Charles Aparecido/Divulgação
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