Segundo pesquisador do Inpe, explicação está na diferença de temperatura e umidade entre o continente e as águas do mar próximas à costa. Estudos apontam aumento da intensidade do fenômeno
Os ciclones extratropicais são fenômenos meteorológicos comuns que se formam sobre o oceano ou o continente e costumam provocar muitas ondas quando estão sobre os oceanos. Contudo, podem ser devastadores quando ganham intensidade e tocam o continente, especialmente pela força dos ventos. Desde junho, ao menos quatro atingiram o Sul do Brasil. Mas por que essa região é aparentemente mais suscetível a esses fenômenos?
“Toda vez que passa uma frente fria, ela está associada a um ciclone extratropical”, explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Manoel Alonso Gan.
Dedicado desde 1988 ao estudo de ciclones extratropicais e temas relacionados, o pesquisador explica que nem todo ciclone é intenso e provoca ventos fortes o suficiente para provocar destruição. Os mais intensos costumam ocorrer na costa da região Sul do Brasil no período entre maio e setembro. Isso decorre da diferença de temperatura e umidade entre o continente e as águas do mar próximas à costa, ou seja, o deslocamento do ciclone do continente mais frio e seco em direção ao oceano mais quente contribui para que haja transferência de calor e umidade do oceano para a atmosfera.
“Neste ano, a temperatura da superfície do mar está ligeiramente mais alta do que a climatologia desta época do ano. Isso contribui para que o oceano forneça mais energia em forma de calor e umidade para a atmosfera e, assim, os ciclones podem se tornar mais intensos”, analisa o pesquisador.
Manoel Alonso Gan explica que o calor oriundo do oceano aquece o ar próximo à superfície. Como o ar mais quente é menos denso que o ar frio, fica mais instável e adquire um movimento ascendente. A queda da densidade favorece também a queda da pressão do centro do ciclone. Quando esse mecanismo ocorre, o fenômeno pode ficar mais intenso. Além disso, o ar sobre o oceano mais quente consegue armazenar mais umidade, e ao ascender para níveis mais altos da atmosfera, o vapor d'água esfria e muda para a fase líquida. “Durante esse processo, há liberação de calor, conhecido como calor latente, que aquece mais atmosfera e a torna mais instável e, assim, a pressão em superfície cai mais um pouco”, detalha.
O pesquisador alerta que o fenômeno ocorrido no Rio Grande do Sul na semana passada não pode ser atribuído exclusivamente a um ciclone extratropical. “O ciclone não foi a única explicação para toda essa chuva.”
Segundo ele, concomitantemente, podem ter ocorrido o estacionamento de uma frente com ar quente e úmido vindo da região Amazônica e a formação de baixa pressão. Uma análise detalhada desse evento será feita pelo Inpe para avaliar todos os fenômenos e os fatores que ocorreram. “Faremos uma análise detalhada do caso para compreender com precisão os fatores que contribuíram para essa situação”, afirma Gan.
Não há dados disponíveis nos centros meteorológicos brasileiros que quantifiquem o número e a intensidade de ciclones extratropicais intensos que se formam ao longo do ano e passam pela costa da região Sul do Brasil. Contudo, de acordo com o pesquisador do Inpe, há variabilidade interanual, com anos com maior frequência e outros com menor formação de ciclones.
Ele acrescenta que alguns estudos têm mostrado tendência de redução na formação de ciclones extratropicais devido às mudanças climáticas. “No entanto, observa-se um aumento na frequência de ciclones mais intensos”, pondera o pesquisador.
A nota técnica emitida no fim de agosto conjuntamente por Inpe, Inmet e Funceme para os meses de setembro, outubro e novembro indica chuvas acima da média para o Sul do Brasil. Segundo a nota, a condição reflete a ação do El Niño.
Por: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
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